Alexander

 

Rua do Lavradio, 122. Esse é o endereço do Alexander Fátima Santana, 12 anos, beneficiário da São Martinho. Ele vive em uma ocupação no Centro do Rio de Janeiro com a mãe e o irmão mais velho, de 15 anos. O local apresenta infraestrutura irregular e foi tomado pelo tráfico. O que para muitos seria apenas mais um cômodo, para ele é casa. Os três vivem em um quarto de cerca de 6m².

O colchão de casal no chão é a cama para os três descansarem. Ao lado ficam as roupas empilhadas, que dividem o espaço com uma televisão em cima de uma cadeira.O espaço entre o colchão e a entrada abriga o fogão e o botijão de gás. A porta é um lençol esticado. O ventilador é parte essencial da casa. Faz muito calor. Não tem geladeira.

– Quando eu estou com sede, eu bebo água quente – conta o menino.

No início de 2018, os três chegaram à ocupação. Cristina de Fátima Santana, 50 anos, mãe do Alexander, é de Vigário Geral, zona norte do Rio. Aos 15 anos, ela começou a fugir de casa para ficar na rua, usava drogas e roubava. Após seis anos na cadeia, Cristina foi morar em Gramacho, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio, local de nascimento do Alexander. O menino cresceu em meio ao caos, a mãe se tornou traficante e foi cafetina, fez de sua casa um bordel.

Na São Martinho, Alexander encontrou a luz. Todos os dias à tarde, depois que sai do colégio, ele vai participar das atividades do eixo Abordagem, no centro socioeducativo da Lapa. Do momento que ele chegou até agora, os educadores já perceberam a diferença comportamental do menino.

– Eu pratico esporte, faço as tarefas de artes e informática. Depois que eu cheguei aqui eu senti a mudança na minha vida, não fico sem fazer nada quando não estou na escola – explicou o jovem.

A família vive na ocupação com o salário mínimo que Cristina recebe do trabalho na Universidade Unigranrio, em Duque de Caxias. Depois de um atropelamento, ela ficou com dificuldades de movimentar a perna direita, anda com o auxílio de muletas. Mesmo sem saber ler e escrever, ela conseguiu um emprego para deficientes na faculdade.

Apesar de tudo, Alexander tem doçura no olhar. Diferente do irmão mais velho, ele tem medo de se envolver com drogas e milícia. Para Cristina, ele é um porto-seguro, sempre disposto a ajudá-la. Os dois vivem sonhando.

– Ontem a gente estava assistindo a novela e ele me disse que um dia queria ter um quarto igual ao da televisão – lembrou a mãe.

Alexander deseja tomar um rumo diferente. Quando crescer quer trabalhar como bombeiro e proporcionar uma vida melhor para a mãe. Ele sonha com uma casa própria e um quarto para cada integrante da família.